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17 de out. de 2013

Little Star (Adaptada) Capitulo Doze; Parte Três!

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E eles foram. Raramente iam para a casa de Thur, para a casa deles. Simplesmente porque parecia estranho. Porque se fizessem isso, esqueceriam que não estavam casados mais. E não estavam prontos para sair do estágio de “namorados” ainda.

- Hey. – Thur murmurou quando percebeu Lua se mexendo ao seu lado. – Está acordada?
- Estou agora. – Ela se virou para o lado, dando um selinho em Thur.
Não sorriu, entretanto. Apenas o encarou com o olhar um pouco perdido, encontrando o mesmo semblante no rosto do namorado. Era uma sexta-feira, mas ela não trabalharia naquele dia. Era aniversário de Stella. Ela sabia e Thur também, que significava muito mais do que nos outros anos.
Por mais estranho que parecesse, durante essas semanas em que estiveram juntos, eles não falaram de Stella em momento nenhum. Como se tocar no assunto fosse acabar com tudo o que eles estavam reconstruindo. Naquele dia, porém, eles não tinham como fugir do assunto. Eles precisariam falar dela. Ambos sentiriam essa mesma necessidade. 

Sem querer ter essa conversa logo pela manhã, Lu se levantou, indo tomar café da manhã e tomar banho, antes de começar um dia que ela gostaria de evitar. Ela nunca sabia como se sentir nesse dia, o que era para ser feliz acabava sempre se tornando triste. Lua esperava que dessa vez o dia tivesse um final feliz. Thur se encontrava no mesmo estado, nos últimos três anos, ele usara esse dia para se escrever, ou era o que gostava de fingir para si mesmo. Na realidade, ele se trancava no quarto e bebia sem parar por quase 24 horas seguidas, de vez em quando escrevendo coisa ou outra, que ele jogaria no lixo no dia seguinte ou quando ficasse sóbrio.
Naquele ano, ele não teria a bebida para confortá-lo. Ele teria Lu. É, estava evoluindo.
Thur saiu da cama alguns minutos depois, sentando-se na frente de Lua na mesa da cozinha. Eles ficaram apenas olhando um ao outro, sem tocar na comida ou falar nada. Não precisavam trocar nenhuma palavra, sabiam o que o outro estava sentindo.
- Você quer visitá-la? – Arthur perguntou, repentinamente, sem saber como começar a conversa. Lu apenas balançou a cabeça em negativa. – É, eu também não.
- Você costuma ir lá? – Ela não precisou dizer aonde. 
- Vou quase todo mês. Às vezes, me acorda um pouco, perceber que continua ali, que eu não vou voltar para casa e encontrar vocês duas lá. – Ele falou, meio pensativo, não acrescentou que, às vezes, a realidade vinha tão bruscamente, que ele acabava se acalmando com álcool. Lua assentiu.

Ela tinha a mesma sensação. E odiava isso. Odiava ser obrigada a se pegar a realidade. Sabia que era o certo, sabia que era o melhor, mas se agarrar a esperanças e ilusões sempre lhe foi tão mais atraente. Por esse motivo, só ia visitar Stella uma vez ao ano, no dia de seu aniversário de morte. Ou quando sentia uma necessidade de ir até lá, o que acontecia cada vez com menos frequência. 
O assunto encerrou por ali, eles começaram a comer em silêncio. Nenhum dos dois tinha muito o que falar. Lavaram a louça depois, não trocando mais palavras do que o necessário.
Quando acabou de colocar todos os utensílios nos armário, Lu deixou Thur sozinho na cozinha. Foi tomar banho, tentando esfriar a cabeça com um banho quente. Gostava de utilizar o tempo no banho para pensar, naquele momento, entretanto, não conseguia pensar em nada. Seus pensamentos tinham se calado. 
Lua pensou que talvez não devesse ter tirado o dia de folga. Ficar o dia inteiro com Thur, os dois sem saber o que falar, seria estranho. Não havia nada que ela pudesse fazer agora, porém. Ainda um pouco lamentante, ela se secou e saiu do banheiro, suspirando só de pensar no resto do dia. 
Encontrou Thur na sala. Ele estava sentado na mesa de jantar, de costas para ela, então Lu não podia ver o que ele estava fazendo, mas imaginava que lia alguma coisa. Ao se aproximar por trás, ela notou que tinha se enganado, ele não estava lendo, mas sim observando uma foto. Lua sentiu o coração apertar ao olhar com mais atenção na foto. Ela sempre ficara em um porta-retrato, em cima de uma mesinha, onde ficava também a televisão. Como acontece normalmente, depois de um tempo ela se acostumara com o objeto ali e nunca mais prestara atenção nele.
A foto havia sido tirada na manhã de natal de 2004, Stella estava com pouco mais de dois anos e estava rindo loucamente. Vários presentes estavam jogados no chão e Stella segurava uma boneca pelos cabelos, enquanto se jogava em cima da mãe, que sorria abertamente. Se Lua um dia precisasse definir felicidade, ela mostraria essa foto.
Era um dos retratos mais bonitos que ela já vira, engraçado como tinha se esquecido. Lu sentiu os olhos ficarem marejados de nostalgia. Repousou sua mão no ombro de Arthur, despertando-o de seu mundo. Arthur virou-se imediatamente, em um sobressalto. Ao perceber que era apenas Lu, ele sorriu. 
Um sorriso horrivelmente triste, Lua percebeu. Ela olhou para si mesma na foto e comparou seu próprio riso com o de Thur, era um terrível contraste.
- Você acha que um dia voltaremos a ser tão felizes quanto éramos? – Lu perguntou, quebrando o silêncio e o contato visual, sem saber se era para Thur ou para si mesma.

- Espero que sim. – Respondeu, colocando o porta-retrato de volta no lugar. – Acho que vai sempre parecer que falta uma coisa, mas a felicidade pode se apresentar de diferentes formas. Não estaremos felizes todos os dias, mas nunca estivemos assim.
Era verdade, Lu pensou. O engraçado dos humanos é que quando pensamos em um momento bom que já passou, sempre o idealizamos. Gostamos de pensar que tudo era maravilhoso e que agora tudo está péssimo. Quando as pessoas morrem, ignoramos seus defeitos. Era exatamente isso que Lua fazia, fingia que tudo costumava ser perfeito. E, de certa forma, era mesmo perfeito, comparado com agora. Mas a felicidade nunca foi completa ou efemeramente eterna.
Thur andou até o sofá da sala, sentando-se. Lua se sentou ao seu lado, sem tocá-lo. Eles ficaram, por um tempo, apenas olhando para a televisão desligada na frente deles, parecendo dois mortos-vivos. Depois de algum tempo, Arthur procurou a mão de Lu e segurou, apenas como se dissesse que estava ali.
- Você já se perguntou como seria se o acidente não tivesse acontecido? – Ele perguntou, despertando novamente a atenção de Lua.
- Todo dia. – Ela suspirou. – Stella estaria fazendo seis anos. – Ela faz menção de continuar, mas parou por ali, como se entendesse que Thur já soubesse tudo o que ia dizer.

- Eu sei que isso soa horrível, mas, às vezes, gosto de pensar que ela teria ido de qualquer jeito. Que estava destinado a ser assim. – Ele murmurou e Lu assentiu, entendendo o que ele quis dizer. Se tivesse a certeza que tudo tinha acontecido por um motivo para ser assim, que não tinham como ter feito nada diferente para mudar, seria tão mais reconfortante. – Mas acho que é apenas uma tentativa frustrada de me livrar da culpa.
- Você precisa parar de se culpar. – Ela sussurrou, começando a sentir a tristeza a dominando com esse assunto. – Não há nada que você possa fazer agora, Thur. – Apertou sua mão, segurando-a.
- Será que um dia eu vou conseguir parar de me culpar? – Perguntou , mesmo sendo uma pergunta .Lu o abraçou de lado, sentindo que ele estava precisando disso mais do que ela. – Será que um dia você vai conseguir me perdoar? – Completou, fazendo com que ela se afastasse e olhasse para ele, com a testa franzida.
- Do que você está falando? – Thur sustentou o olhar e Lu soube que ele está falando sério. – Eu já te perdoei, Thur.
- Por tudo?

- Por tudo. Não foi sua culpa. Algumas coisas foram acidentes, outras foram culpa minha. Certo, talvez uma parte tenha realmente sido culpa sua, mas isso não importa. O que passou, passou. Por tanto tempo eu guardei as mágoas, esperando que elas desaparecessem, mas, na verdade, elas nem estavam mais ali, eu apenas pensava que estavam.
Lua ficou em silêncio e percebeu que um leve semblante de alívio passou pelo rosto de Arthur. Ela o abraçou, sem saber como colocar em palavras o que estava sentindo. Eles ficaram assim por um tempo.
- Eu te amo. – Ela disse, finalmente, beijando-o. – Não importa o que aconteceu, só o que vai acontecer. E eu vou estar aqui com você, sempre. 
- Obrigado. – Ele a puxou mais para perto, para um beijo. 
Sentia que um peso tinha sido tirado de suas costas, agora que sabia que Lu não o culpava mais. Agora só faltava ele se perdoar. 

Novembro, 2008 

Lua colocou uma rosa solitária na grama, ao lado da que já estava ali. Ficou alguns segundos parada, olhando a lápide, que anunciava que fazia exatamente três anos desde que Stella se fora. Sentiu o coração apertar e os olhos começarem a ficar embaçados, como costumava acontecer toda vez que ia até o cemitério. Antes que a lágrima escorresse, entretanto, ela sentiu alguém apertando sua mão.
Ela olhou para o lado, encontrando Thur olhando na mesma direção que ela. Sentindo seu olhar, ele se virou, abrindo um pequeno sorriso, um sorriso de compaixão, que demonstrava não somente que ele entendia, mas que eles estavam juntos naquilo. Juntos como deveriam ter estado há três anos. Porque, naquele ano, Lua não chorou mais. Naquele ano, Arthur não se afogou em bebida. Se tivessem tido a coragem de se apoiarem um no outro, de compartilhar a dor, não teria sido tão difícil aceitar a morte da filha.

Arthur abraçou Lua pelo lado, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
- Vamos? – Ela disse, depois de terem ficado algum tempo em silêncio.
- Vai indo, eu vou daqui a pouco.
Lua assentiu, entendendo que ele precisava de um tempo sozinho com Stella. Assim como ele a deixara sozinha, dois anos antes. Apertou a mão de Thur, deixando-a depois e andando vagarosamente até onde estavam estacionados.
Thur observou Lu se afastando até que não pudesse mais vê-la, virou-se, então, novamente, para a lápide se Stella. Ele já tinha vindo visitá-la milhares de vezes, mas dessa vez era diferente. Dessa vez, toda sua situação física e psicológica era diferente.
- Me desculpe, Stella. – Ele falou simplesmente, colocando sua mão direita em cima da lápide. – Eu realmente sinto muito. – Repetiu. – Você pode me perdoar?
Ele sabia que não obteria resposta. Não estava esperando que o fantasma de Stella aparecesse e o respondesse, ou que aparecesse um sinal divino de repente. Começasse a chover ou ventar e, nada aconteceu, realmente. Ao fazer a pergunta, Arthur questionava a si mesmo e não a Stella. Ele se perdoava? Ele conseguiria se perdoar, quando via a lápide marcando um espaço tão pequeno de vida? Quando via o nome de sua filha estampado ali? Ele conseguiria se perdoar quando as imagens do acidente vinham na sua cabeça? Ele conseguiria se perdoar cada vez que visse Lua triste por ter se lembrado da filha?
Não achava que conseguiria. Sabia que, no fundo, nunca conseguiria. Mas ele havia superado, ele tinha entendido que não há nada mais que ele possa fazer. Nunca poderia se perdoar, porém, por não ter feito alguma coisa quando pôde. 
Não podia se livrar completamente da culpa. Mas, agora, deixava-a ali, naquele cemitério. Enterrava-a junto com Stella, para que toda vez que ele fosse até lá, ele se lembrasse de que, afinal, era por causa dele que ela estava morta. Lembraria cada vez que se lembrasse de Stella, mas podia, ao menos, seguir com sua vida.
Ele deu as costas para a lápide e para a culpa. E foi encontrar Lua.

Créditos: Flavia C


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