Um médico apareceu, disse a Lua que iria levá-la para o marido. Ela o seguiu até um quarto, Thur estava lá. Seu rosto estava inchado e cheio de arranhões. Estava deitado e parecia que seu braço estava quebrado. Mas estava bem. Estava vivo. Lua suspirou de alívio.
- Onde está Stella? – Perguntou, notando o que faltava – Onde está minha filha? – Questionava ao médico.
Viu a mudança de humor do médico. Virou-se para o marido, viu que ele nada falava.
- Onde está minha filha? – Repetiu – Eu quero vê-la, agora.
- Acalme-se, Sra. Aguiar. – Ele pedia – Sua filha está em cirurgia. Se quiser, podemos levá-la para lá.
Em cirurgia? Como assim em cirurgia? Stella, aquela pequena imitação de gente, precisou passar por uma cirurgia? Mas ela só tinha três anos! O acidente não podia ter sido tão grave... Não podia. Olhou para Thur, como se pedisse ajuda.
- Eu sinto muito. – Ele murmurou – Eu não vi... Não sabia... – Ele dizia coisas sem sentido.
- Acompanhe-me. – O médico a avisou e ela o seguiu.
Passava o corredor com pressa. Lágrimas rolavam pelo rosto de Lua, ela não conseguia imaginar sua filhinha em cirurgia, sofrendo. Não podia. E onde estava ela quando isso aconteceu? O hospital era triste, cheirava a morte e solidão. Onde estavam as pessoas? Entrou na área da emergência. Seguiram até uma das salas de cirurgia. O médico deixou que ela entrasse, mas alertou que ela não deveria ficar muito próxima. Stella estava na cama, no centro de todas aquelas pessoas enjalecadas. O sangue – e como tinha sangue ali! – contrastava com a brancura de sua pele.
Os médicos falavam coisas que ela não entendia. Bisturi, desfibrilador, anestesia, taxa de oxigênio, batimentos cardíacos. Estamos a perdendo. Mais uma vez. Hemorragia interna, traumatismo craniano. Perdeu muito sangue. Sete minutos. Não há mais nada que se possa fazer. É só um bebê. Sinto muito. Não. Continuem tentando, continuem.
Não. Não. Não. Não!
Os médicos tiraram as luvas, limparam o corpo de Stella. Olharam para Lua com pena. A linha que marcava os batimentos cardíacos estava reta, alguém desligou o monitor. Um médico lhe explicava o que tinha acontecido. Não puderam evitar, ela perdera muito sangue, batera a cabeça. O cérebro tinha ficado muito tempo sem oxigênio.
Lágrimas rolavam pelo rosto de Lua. Ignorou os médicos, andou até seu bebê. Segurou a mão dela. Sem pulso, sem vida. Não, isso estava errado. Como isso acontecera?
Sua filha. Sua pequena estrela estava ali, morta. E ela estava viva. Isso não era certo, não era natural. Sentiu Thur a abraçar pelas costas – quando ele chegara aqui? – ele também chorava, notou. Não se importava, se afastou dele. Só queria ficar com sua filha agora.
Chorava alto, percebia. Nunca tinha chorado tanto assim. As lágrimas molhavam o rosto de Stella, talvez levassem a vida de volta ao rosto da criança. Não sairia dali, ficaria com sua filha, não iria abandoná-la novamente, nunca mais.
Volte, Stella, por favor. Não podem fazer isso.
- Lu... – Thur murmurava, ela não respondia.
Era culpa dele. O acidente, tudo. Não importava o que tinha acontecido, era culpa dele. Seu bebê não estava mais ali, então nada mais fazia sentido.
Os médicos tiveram que a tirar dali. Sedaram-na, ela não viu mais nada. Não queria sair dali, queria ficar com a filha.
Stella, Stella... Onde está você agora?
Juntou-se às outras estrelas do céu, a onde pertencia desde o início? Por quê? Por que nos abandonou tão cedo?
Irei a seu encontro, Lu pensava, os olhos fechando, lutando contra os médicos. Logo iremos nos encontrar, meu bebê, você não vai ficar sozinha por muito tempo, não precisa se preocupar.
Sem dor, sem sofrimento, deitada na cama, sedada, nada acontece. Nada existe. O mundo acabou.
Apenas uma morta-viva. Onde está Stella? Sonhara com ela aquela noite... Que sonho estranho! Por um momento pensara que a filha não estava mais lá, bobagem, daqui a pouco apareceria feliz e saltitante, enchendo-a de perguntas.
Lágrimas. Não era um sonho. A dor não acabava nunca.
Abriu os olhos, dor. Não era ela que havia sofrido o acidente, mas sentia como se fosse. O quarto era branco, por que hospitais eram brancos? Queria cores. Stella gosta de cores.
Thur está sentado ao seu lado, chorando. Segurava sua mão. Ela não precisava que segurassem sua mão. Afastou-se, queria ficar sozinha. Quis passar o dia sozinha e sua filha morreu. Estava morta. Por quê?
Ela não falava e não falaria, até ter a filha de volta. Isso era uma brincadeira, de muito mal gosto, por sinal.
Já tinham lhe tirado os pais, por que levaram a filha? Sua filhinha... Sua vida.
Que a levassem então, não tinha motivos para ficar. Acabou.
Escritora: Flavia C.
Revisão: Gabriella
Adaptação: Juuh

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